segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A invasão do amanhã

O que está acontecendo no futuro? Sim, porque alguma coisa deve estar ocorrendo por aquele território de heroicos brados retumbantes para provocar essa enxurrada de novos autores de ficção científica do País do Futuro.

Dênis Moura e seu Retorno ao Big Bang Microcósmico são os mais recentes resultados desse paradoxo, dessa invasão de trás para frente, que faz com que os visionários do porvir aportem no dia-a-dia de nosso século XXI, antigo cenário de uma Era de Ouro que quase morreu no ovo do pós-Estado Novo. O Brasil do ano 2008 não é de plutônio, urânio ou qualquer metáfora porno-radioativa, mas de carne chamuscada e osso fraturado. Carbono safra mil-novecentos-e-quatorze.

Talvez o motivo para a invasão dos escritores do amanhã seja mais singelo, quem sabe devido ao amadurecimento – ou, se a lógica do reverso estiver em voga nesse caso também, de “enverdecimento” – de uma geração que cresceu antecipando a realização de milagres por exposição a raios catódicos. Aqueles velhos medicados com overdoses de George Pal e Irwin Allen chegaram à infância e decidiram que cabe a eles, em lugar de dormir em berço esplêndido, realizar o sonho de um país que não tem pavor do agora.

Acredito que Dênis Moura seja um viajante do tempo, daqueles com alma vitoriana e olhos duros de quem não simpatiza com o que prevê. Poderia jurar que esse estratonauta compartilha do entusiasmo febril dos que acreditavam num futuro melhor à luz da ciência, mas com o sorriso mezzo-cínico mezzo-calabreza cansado de esperar, produzindo o futuro que os gerou, exterminadores de um presente estagnado.

Diante desses construtores de proto-realidades, sinto como o físico que identifica uma partícula teimosa, escondida sob uma capa de invisibilidade quântica, táquions cronografados nas entrelinhas.

Cuidado, leitor, eles estão entre nós e, a partir de agora, mais especificamente na página que vem, big bangs serão rotina.

Maravilhe-se.
 
Octávio Aragão
Doutor em Artes Visuais pela UFRJ.
Foi editor de arte da Ediouro e coordenador de arte de O Globo.
É professor adjunto da Universidade Federal do Espírito Santo.

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